sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quem foi que disse que a mulher é inferior?




Estamos cansadas de ouvir piadas machistas sobre nós mulheres como: “Lugar de mulher é na cozinha pilotando fogão”! Ou aquela do tipo: “A maneira mais cara de ter louça lavada de graça é casando”. Esses são apenas alguns exemplos de como as mulheres são tratadas e apontadas pela sociedade, que de maneira preconceituosa alguns homens nos acusam de sermos inferiores diante da suposta “superioridade” masculina. Mas só os homens são machistas? Que nada! Há muita mulher por aí que age dessa maneira.  Sempre tem uma mãe, uma tia, uma avó que diz: “Filho deixe que sua irmã ou eu, arrume sua cama, afinal, isso é tarefa de mulher”.
Esse preconceito generalizado, tanto por homens e até mesmo das próprias mulheres, tem seus motivos, e ele fora implantado em nossa sociedade e em muitas outras em um período histórico muito remoto. Quem nunca ouviu dizer que a mulher é o sexo frágil?  Diante das diferenças físicas entre homens e mulheres, julgou-se que o corpo feminino devido sua fragilidade perante o masculino, fizeram com que estas fossem vistas como inferiores. A partir de uma visão de caráter biológico, criou-se a idéia de que as mulheres fossem intelectualmente inferiores aos homens. Desse modo, o gênero feminino fora visto (e em muitos casos ainda são!) como incapaz de cuidar dos negócios da família, do seu próprio corpo... E a partir daí, estas passaram a ser submetidas aos mandos e desmandos da classe masculina.
Não podiam sair de casa sozinhas, se vestir como quisessem, de trabalhar, votar e serem votadas. Suas vidas eram limitadas aos afazeres domésticos e no cuidado da família. Acerca disto, Mary Del Priore, cita em sua obra Histórias Íntimas- Sexualidade e Erotismo na História do Brasil (2011), que em artigos publicados na revista Ele & Ela (1969), enalteciam esse papel feminino limitado a vida doméstica, e diziam o seguinte:
“A mulher deve ser fêmea e assumir sua condição. Deve ser bonita, desejável, deve ser mãe. Deve cuidar da casa e dos filhos e esperar o marido de volta do trabalho bem disposta e arrumada. É exatamente para isto que ela existe. E, longe de diminuí-la, isto só pode engrandecê-la. Afirmar que tudo isso leva o sexo feminino ao aniquilamento intelectual e à submissão, é desconhecer as possibilidades da tecnologia atual. A verdade é que sempre sobra tempo para ler, para escrever, para pintar, sei lá, para criar. Isto é até um privilégio, pois nem sempre os homens dispõem deste tempo”.
Mas estas permaneceram ainda submetidas a estes tratos? Lógico que não!
Com o decorrer do tempo, após muitas reivindicações, as mulheres foram conquistando seu espaço e liberdade. Mas essa liberdade era tida como sinônimo de libertinagem, pois era vista como pecado diante da ordem social pautada na passividade dessas por muito tempo. Mas de que forma isso acontecia? Tomemos um exemplo. A mulher que decidia por separar-se era excluída pela sociedade. E mulher infiel? Infidelidade masculina ainda era aceitável, pois havia (e ainda há hoje!) um discurso que dizia que o homem possuía um impulso inerente, inato, segundo o qual ele não podia mudar! E isso justifica alguma coisa? Que hipocrisia. Mas se mulher trair é tida como um mal social, e deve ser posta as margens da sociedade que prima pelos “bons costumes”.
Em 1912, a valente Sylvia Pankherst fora saudada por sua coragem de discursar num bairro operário da cidade de Londres. Juntamente com a mãe Emmeline e a irmã Christabel, ativamente lutaram para que as mulheres pudessem votar na Inglaterra. E essa conquista ocorreu no ano de 1928 após muita persistência. Aqui no Brasil, tivemos várias ativistas que reivindicavam seus direitos. Com a ascensão da República, surge uma figura que fora uma das primeiras a reivindicar o voto feminino e pela emancipação social da mulher: Josefina Álvares de Azevedo. Em meados ainda de 1888, ela fundou o primeiro jornal feminino na cidade de São Paulo, que em suas páginas além de lutar pelo voto feminino, buscava uma melhor educação voltada para as mulheres, no qual estas desenvolvessem as suas capacidades de não apenas exercer funções da família, mas direitos de participarem de funções importantes do Estado.
Diante desses fatos, percebemos que essas mulheres foram exemplos de luta e protesto diante da repressão implantada fortemente na sociedade, e se antes estas se conformavam com a situação em que viviam de submissão, passam a reivindicar com unhas e dentes por seus direitos.
Acerca do que foi mencionado, é fato que homens e mulheres são diferentes quanto ao aspecto físico, mas isso não justifica dizer que estas são inferiores intelectualmente, ou que elas devam estar restritas aos afazeres do lar. Se pararmos para pensar, a inteligência de ambos os sexos é a mesma, o que pode ser decisivo, são as oportunidades que cada um terá de conquistar para aplicar suas capacidades. Com o avanço da tecnologia, por exemplo, dispensa-se o uso da força física masculina em alguns casos, e o que se exige na verdade, são as competências intelectuais, e isso tanto homens, quanto as mulheres possuem.
Mas a conquista feminina para por aí? Claro que não. A descoberta dos anticoncepcionais garantiu que estas pudessem fazer um planejamento familiar. Tendo em vista que em décadas passadas, eram impulsionadas para serem meras procriadoras. E vale também ressaltar que o prazer sexual antes restrito apenas ao homem, passa a ser sentido pela própria mulher, antes visto como pecado, mas que apesar disso tudo, muitas ainda se subjugam com medo de ir para o inferno, de acordo com alguns preceitos religiosos. Mas isso é uma questão que também deve ser relativizada.
E no quesito profissão? Encontramos mulheres que são advogadas, médicas, engenheiras, presidentes de países. Entretanto, ainda lutamos por melhores salários. Pois mesmo que muitas exerçam a mesma profissão que um homem, ainda assim, recebem salários inferiores em alguns casos. E mesmo que tenhamos alcançado várias conquistas, percebemos ainda que o preconceito é emergente contra as mulheres, e que há muito a melhorar.
Quando batemos na tecla por “igualdade”, muitos acham que queremos ser superiores aos homens. Pois se assim fosse, os papéis apenas mudariam: mulheres superiores e homens submissos. Creio que isso não faz sentido. A luta é pela igualdade de direitos que assim como os homens os têm, nós queremos e exigimos também: igualdade de direitos garantidos. Não se trata de superioridade, é uma questão de justiça, de dignidade!

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Canibais: por necessidade ou fanatismo?



Quando pensamos no termo canibal, logo fazemos referência a indivíduos que se alimentam de seus semelhantes. Algo que quando ocorrem entre nós, seres humanos, tratamos como um ato doentio, de uma pessoa desprovida de juízo que, incorporado por um desejo animalesco, comete esse ato dito irracional, que antes fora considerado como prática de povos não civilizados.
Esta prática fora uma das causas para que os ocidentais se apropriassem de espaços já habitados que, segundo estes, tais sociedades possuíam culturas atrasadas, que se assemelhavam aos nossos primeiros ancestrais humanos. É claro que os europeus não tinham essa noção de evolucionismo no século XVI que só seria produzida no século XIX. Segundo a qual, cada sociedade teria de atravessar etapas evolutivas que iam desde a selvageria, passando pela barbárie até atingirem à civilização, vista como o patamar mais elevado da humanidade, onde se encontrava a sociedade europeia. Mas, possuíam a criacionista em que se baseavam e submetiam esses povos que não possuíam fé (segundo os europeus) e andavam nus.
Quando nos remetemos à fé, logo direcionamos nosso olhar ao nosso país Brasil, onde o cristianismo católico fora determinante em nossa colonização. De acordo com os que aqui chegaram os nativos que habitavam nosso território não estavam no padrão, dos preceitos de fé advindos da Europa. A cultura xamanista que reinava no Brasil antes da colonização portuguesa, não poderia ser atribuída como fé, segundo a visão portuguesa baseada em preceitos cristãos, nas quais os nativos não possuíam.
Alguns relatos europeus de antropofagia no início da colonização sobre o Novo Mundo deram conta de se criar sobre os povos indígenas da América um estigma de um continente que vivia na barbárie, propiciada por seus nativos, que não podemos considerar que fossem na sua totalidade antropófagos. Mas, esquecem que os próprios europeus já provocaram espetáculos monstruosos, em decorrência da fé. Até mesmo se permitindo a cometer atos canibais, que foram esquecidos pela história ocidental.
Esses fatos são trazidos à tona pelo escritor Libanês Amin Maalouf, que a partir da apropriação de crônicas e de relatos históricos do período das Cruzadas, tivera a possibilidade de escrever a obra intitulada “As Cruzadas vistas pelos Árabes”. Trazendo a perspectiva árabe sobre os acontecimentos que ocorreram em circunstância do fanatismo religioso cristão.
Um fato inserido na obra de Amin Maalouf, que nos chama atenção, é um acontecimento ocorrido na cidade Síria de Maara, onde os relatos árabes darão conta de atrocidades cometidas pelos franj, (forma pela qual os árabes denominavam os ocidentais, em circunstância das cruzadas) que provocariam o temor em todas as cidades árabes que ficavam no caminho de Jerusalém, que era o principal objetivo dos ocidentais, a retomada da cidade santa, que estava em posse dos árabes que não compartilhavam da religião cristã, e sim da ascendente religião Mulçumana, que no século XI já aspirava um risco para os ocidentais. Um perigo que escondia por parte dos ocidentais, uma tentativa de se expandirem pelo oriente, utilizando-se de uma famigerada guerra santa.
Guerra esta que não explica as atrocidades que ocorreram em Maara. Já que os ocidentais agiram de forma cruel contra uma cidade rendida, que não possuía um exército, apenas uma milícia, e que não se atreveu a enfrentar o grande exército franj, se apegando na palavra de um notável franj, Bohémond, que assumira o poder em Antioquia e garantira que a população de Maara não seria incomodada. No entanto, em razão da invasão ocidental, a população dessa cidade Síria seria trucidada, e serviria até como alimento para esses fanáticos, que agiam de uma forma nunca vista antes. No qual é relatado pela obra de Amin Maalouf, em que os ocidentais aterrorizavam, clamando por carne sarracena. E relatos ainda dão conta que a população adulta de Maara era cozinhada em caldeiras, enquanto que as crianças eram grelhadas no espeto.
Em razão desse acontecimento monstruoso ocorrido em Maara, há de se perguntar se o que aconteceu se deve em razão de sobrevivência, que fora abalada por alguma circunstância física que os ocidentais foram infligidos. Como fora evidenciado na obra de Maalouf, em que os chefes dessa carnificina afirmarão em uma carta ao papa no ano seguinte do ocorrido, que uma grande fome assolou o exército franj, e que acabou resultando nesse fato. Ou por razão de fanatismo, quando em uma frase de um próprio cronista Franj Albert de Aix que esteve na batalha, fez cair por terra esse argumento de sobrevivência, quando o mesmo relata: “Os nossos não repugnavam em comer não só a carne dos turcos e dos sarracenos mortos como também a carne dos cães!” (Maalouf, 2001, p. 47). Esta frase dotada de crueldade mostra outra face do que possivelmente ocorrera em Maara.
Esse acontecimento teve inicio em 11 de Dezembro de 1098. Quase quinhentos anos depois, os europeus se impressionavam com relatos trazidos do Novo Mundo, nos quais eram destacados que os nativos da América eram canibais. Sem nem mesmo buscar entender por que estes agiam dessa forma (se por prazer de se alimentar ou se tinha alguma explicação lógica), os julgavam desta maneira, estigmatizando-os. Sem levar em consideração que os próprios europeus, em razão das cruzadas, sem lógica alguma, apenas pelo fanatismo religioso, praticaram canibalismo. O que poderia explicar esse fato era que: os europeus agiram dessa forma para mostrarem que os muçulmanos não eram seus semelhantes, pois os mesmos não compartilhavam do mesmo credo.
Uma frase de um ilustre poeta que nascera em Maara, que possuía o nome de Abul-Ala AL-Maari, que vivera antes desse acontecimento, resume o que pode levar o ser humano a agir dessa forma dita irracional: “Os habitantes da terra dividem-se em dois grupos. Os que têm um cérebro, mais não têm religião, e aqueles que têm religião, mas não têm cérebro”.

Ronyone de Araújo Jeronimo



sábado, 3 de dezembro de 2011

Ciências Sociais



Amigos, familiares e colegas (mesmo da universidade), vez por outra pergunta o que é ciências sociais? Ou o que faz um cientista social?
Ah sei, você vai ser assistente social... Não!!!
Dada à dificuldade do que é ou o que faz, é necessário por vezes, fazer um discurso longo sobre o que serei daqui a alguns anos, tendo em vista que estou em formação...
Grosso modo, podemos dizer que a área das ciências sociais se subdividem  em três, tais sejam: antropologia, sociologia e ciência política.
Na Antropologia pode-se estudar a origem, os costumes do homem e das culturas.  Nomes como Lévi-Strauss, Mauss, Morgan, Radcliffe-Brawn, dentre outros, serão vistos na disciplina em questão.
Na Sociologia, investigam-se as relações, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das organizações sociais. Autores como Durkheim, Weber, Bourdieu e o próprio Karl Marx, contribuíram com suas ideias na área da Sociologia.
Na Ciência política, analisam-se os sistemas, as instituições e os partidos políticos de um país e as relações entre as nações. Bem como abrange assuntos relativos às políticas públicas e etc. Figuras como Bobbio e Gramsci, terão destaque na ciência política.
Atuando como professor ou enveredando no campo da pesquisa, percebemos o quão vasta é a carga e aporte que os cientistas sociais podem atuar na área que optar.
Decidir por ser cientista social é um grande desafio. Pois é necessário reservar, horas e horas de dedicação junto aos livros. Então, tem que gostar de ler! Mas é um prazer enorme poder usufruir e estar constantemente dialogando com os autores, que procuram através de suas teorias explicarem no cerne da vida humana, como as coisas realmente são.
Pena ainda que o curso não tenha o reconhecimento que tanto merece. São anos e anos, livros e mais livros, sem contar nas apostilas, no curso da graduação e na pós, doutorado... são horas de dedicação que mereciam uma melhor atenção dos “nossos dirigentes”.
O que mencionei sobre a função social do cientista social, é apenas uma pequena parcela do que realmente são as Ciências Sociais.
O barato de ser cientista social é poder estar no mundo e questioná-lo, é imaginar o quão podemos fazer de melhor a partir das teorias que lemos, é saber a dimensão da responsabilidade que temos diante dos nossos olhos, e que de certo modo, nos escapa das mãos. Mas que constantemente estamos à procura de respostas de como se dá a lógica social em meio aos seus múltiplos aspectos.
O Cientista Social nunca está satisfeito, é um eterno estudante, à procura de conhecimento. Ser cientista social é estar no mundo, questionar esse mundo, e procurar saber as razões pelas quais fazemos parte dele. É vida, é social, é cultural.

Gláucia Santos de Maria