segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O lixo nosso de cada dia é sobrevivência de muitos!

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)

É desesperador a falta de consciência e sensibilidade de nós brasileiros quando o quesito é o desperdício de alimentos. Sejam nas feiras livres, nos supermercados e até mesmo em casa, muitos alimentos são jogados na lata do lixo a todo instante e levados aos lixões ou aterros sanitários das cidades brasileiras. E enquanto muitos de nós não fazemos o uso correto no consumo de muitos alimentos, observando o que é necessário comprar para a nutrição, a Embrapa mostra em uma de suas pesquisas que o brasileiro joga mais alimentos no lixo do que consome. Isso é um absurdo! E por que a citação de Manuel Bandeira acima? Esta pode ser justificada.
Após assistir inúmeras reportagens sobre o assunto, me deparei no dia 30 de janeiro de 2012 com uma matéria exibida pela SBT no programa SBT Repórter apresentado por César Filho. Num dos diálogos que a entrevistadora fazia a um dos catadores de lixo, fiquei extremamente sensibilizada.  Foi mais ou menos desse modo que se estabeleceu o diálogo. A repórter perguntou ao trabalhador o que de mais valioso ele havia encontrado no lixão, e a resposta foi imediata, o mais precioso, sem dúvida, foi à alimentação. Sim, alimentação! Sabe quando vamos almoçar, jantar, e fazemos aquele belo prato e que quando não agüentamos mais jogamos no lixo sem a menor culpa? É justamente esse alimento que irá nutrir aquele homem e muitos outros juntamente com seus familiares. É duro falar isso, e muitos de nós nem sentimos o peso na consciência. É preciso ver um relato desses para refletir o quão egoístas somos e mais que isso, o quanto não damos valor ao que temos e desperdiçamos, sendo que isto é a sobrevivência de muitos. É de se debulhar em lágrimas diante de tanto descaso. Muitos deles não possuem alternativa mesmo, e tem de sobreviver daquilo que está disponível, no lixo.
Gostaria de compartilhar agora, outro relato sobre o lixão, ou melhor dizendo, o antigo lixão de Campina Grande desativado recentemente pela prefeitura da cidade paraibana. Em tempos em que ainda era estudante secundarista, uma ex-professora minha, disse que uma imagem ficará para sempre em sua memória. Ela nos relatava que em uma visita ao antigo lixão da cidade, com alunos do colégio em que lecionava, viu uma criança, uma menina que aparentava por volta de seus 5 anos de idade. Esta se encontrava suja e com poucas vestes. Quando o caminhão descarregou o lixo, ela imediatamente viu quando caiu uma maçã, e sem pestanejar, zás, pegou a fruta. E como se não bastasse, acreditando que iria retirar as impurezas da fruta no contato com o lixo, simplesmente a pegou com suas mãos, que assim como o seu corpo, estavam sujas, e a esfregou em seu tronco e a devorou. E esse fato nunca saiu da mente da professora que presenciou, e nem da minha que apenas ouviu o relato com tristeza.
Acerca de tudo o que foi abordado, fica um momento de reflexão para todos nós. Muitas vezes olhamos uma comida com desprezo e a julgamos não agradável ao paladar. Pensemos bem antes de jogarmos fora, pois se para nós não é boa, para muitos outros é a única sobrevivência.

Gláucia Santos de Maria




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