quinta-feira, 19 de abril de 2012

Em defesa da verdadeira doutrina religiosa cristã, e suas violências populares no século XVI.


           O Cristianismo ao longo da sua história sofreu com a divisão de seus crentes. Desde o inicio não havia uma coesão entre os seguidores da filosofia de Cristo. É claro que isso só seria observado com mais preocupação, quando o cristianismo tornou-se a religião principal do ocidente e de algumas partes do oriente. O império Romano disseminou a religião cristã pelo mundo, apesar de por muito tempo perseguir a mesma. Mas, com adesão da nobreza romana, esta religião se tornou parte de Roma, tornando este o credo de um império, que mesmo após a sua queda, ainda sustentou a cultura romana, a partir de sua dominação dos povos que conquistaram o império. A Igreja cristã mantivera o rito romano. No entanto, não impedia que os convertidos tivessem percepções diferentes da forma de enxergar a Cristo. O cuidado com as heresias se iniciaria com uma perseguição contra aqueles que pregavam outras formas de conceber a religião cristã, diferente da passada pela igreja com sede em Roma. 
          O grande cisma do oriente, no século XI, iria dividir a cristandade em duas partes, Mas de toda forma, desde o período do império romano, quando Constantino fundou a cidade de Constantinopla, a igreja do oriente sempre manteve politicamente afastada da igreja do ocidente, e é claro que as duas possuíam divergências, que acabaram ocasionando esta divisão. A distância não afetou tanto as populações ocidentais, como seria afetada, quando fora difundida a reforma protestante no século XVI por Martinho Lutero. Por muito tempo a igreja ocidental, com sede em Roma, fora única com a divisão das igrejas do oriente e do ocidente. Pois antes era uma única igreja. Isso não quer dizer que todos concebessem de uma forma única os ensinamentos de Cristo. Havia outras formas de pensamento dentro da doutrina cristã, que eram combatidas. A reforma protestante é um exemplo de combate às arbitrariedades da Igreja católica, por ser a única denominação religiosa do ocidente. Esta privou a população européia de possuir o conhecimento, até mesmo a língua utilizada pelo rito religioso católico era o latim, que atrapalhava a compreensão dos fiéis, mas ajudava a igreja a dominá-los. 
         A reforma Protestante traria benefícios, como as traduções da bíblia nas línguas pátrias. O espírito humanista fluía nesse movimento, que buscava nos evangelhos a explicação. Por isso que os seguidores protestantes buscaram se alfabetizar para conhecer a palavra de Deus, para contrapor os católicos. A legitimidade religiosa logo foi buscada, os católicos referendavam sua existência aos apóstolos, enquanto os protestantes diziam falar a verdade dos evangelhos. Esse embate teórico ocasionaria muita violência e problemas sociais causadas por essa divisão. Na França eram comuns esses confrontos entre católicos e protestantes no século XVI. 
             A historiadora Estadunidense Natalie Zemon Davis, em seu livro Culturas do Povo, enfatizará essas temáticas, junto a outras. O principio de poluição religiosa será tratado no livro, como um dos objetivos das comunidades religiosas de se livrarem umas das outras, pois cada qual era acusada de estar poluindo a sociedade com uma heresia, que deveria ser exterminada. Um trecho de livro de Davis mostra como as duas facções religiosas conclamavam os seus fieis para defender o seu credo. A doutrina verdadeira pode ser defendida em sermões ou discursos e apoiada pela espada do magistrado contra o herege (DAVIS, 1990). A enfatização da espada demonstra o apoio das duas denominações religiosas para que a multidão, de forma dramática, partisse para violência. 
              E muitas violências seriam constadas na Europa, e principalmente na França, inclusive o massacre do dia São Bartolomeu que ficaria para história, como um dos atos mais terríveis empregados, em circunstancia desse embate religioso na Europa. Onde os católicos massacraram os protestantes de uma forma tão cruel, que não permitiram que estes pudessem contrapor. É claro que para ocorrer esse massacre, muitos outros conflitos sangrentos foram observados de ambos os lados, mas esse ficaria marcado para eternidade. 
             Discutindo a mentalidade desse sangrento massacre, Natalie Davis chegará à conclusão que em uma segunda abordagem vê tal violência como parte mais comum do comportamento social, mas a explica como uma espécie de produto patológico de certos modos de educação infantil, da privação econômica ou perda de status (DAVIS, 1990). Os levantes religiosos traziam a luta pela legitimidade religiosa no ocidente. Para os católicos, era muito mais do que isso, era uma busca para voltar a ter o domínio e os status que outrora tinha perdido com a difusão do protestantismo que diminuíra um pouco de sua hegemonia naquele século. Desse modo, isso explica um pouco os conflitos que aconteceram nesse período. 

Ronyone de Araújo Jeronimo